sábado, 20 de novembro de 2010

Existe vida após a morte?

SIM! E eu sou prova viva disso. E este texto não trata de religião, crenças ou qualquer coisa parecida. Trata-se apenas de uma cidadã que sentiu na pele o descaso da saúde pública.
Enquanto políticos como Romeu Tuma que recebeu um coração artificial no valor de R$700 mil reais, tudo pago com verba do senado federal (ou seja, dinheiro público), pessoas como eu e você se quer recebem um tratamento no mínimo digno para um ser humano.
Fui vítima de um acidente de trânsito quando saía do trabalho e não tive o tratamento que esperava, fui encaminhada ao Pronto Socorro, como não tinha nada aparentemente quebrado e nem tão pouco sangue, apresentava inchaço no ombro e na perna, o médico afirmou que tinha sido apenas um susto, não solicitando nenhum exame. Fez apenas seu relatório atestando lesões leves, nada de raios-X, nada de exame.
Até ai tudo “normal”, mas o que o médico escreveu na guia de atendimento foi surpreendente. Quando já estava fora do Pronto Socorro resolvi ler o relatório, pois no dia seguinte teria que realizar novo exame, pois o acidente foi no deslocamento para minha residência, caracterizando assim acidente de percurso. Foi quando notei que no campo onde constava o motivo do atendimento, o médico preencheu “Óbito”.
É isso ai, eu não disse que existe vida após a morte? Porque além de me matarem, eu ainda assinei meu próprio óbito por estar atordoada e não ter notado tamanho erro.
Se não bastasse no dia seguinte passei por outro médico, e este mesmo relatório deve ter passado por no mínimo cinco pessoas, mas ninguém nem notou se tratar de óbito como motivo do atendimento.
Além de ter sofrido o acidente, sofri ainda na pela o descaso, me senti invisível perante a sociedade. Esta situação que vivenciei serviu para realizar uma reflexão sobre a invisibilidade social. Estou presente numa sociedade, porém não vivo na sociedade, sou apenas um objeto que faz parte do meio.
A indiferença que trataram o meu caso foi surpreendente, não pela falta de exame ou medicação, mas um incômodo com o fato de ter um documento público em mãos onde estava escrito o meu óbito ter passado por diversos órgãos públicos sem ser questionado.
Agora estou em dúvida será que realmente existo? Estou em uma situação de conflito pela qual Descartes passou, “Cogito, ergo sum” que significa "penso, logo existo". Mas será que apenas o fato de pensar, funciona para eu poder existir nesta sociedade capitalista?




Óbito?


Por Rilane Alves

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