SIM! E eu sou prova viva disso. E este texto não trata de religião, crenças ou qualquer coisa parecida. Trata-se apenas de uma cidadã que sentiu na pele o descaso da saúde pública.
Enquanto políticos como Romeu Tuma que recebeu um coração artificial no valor de R$700 mil reais, tudo pago com verba do senado federal (ou seja, dinheiro público), pessoas como eu e você se quer recebem um tratamento no mínimo digno para um ser humano.
Fui vítima de um acidente de trânsito quando saía do trabalho e não tive o tratamento que esperava, fui encaminhada ao Pronto Socorro, como não tinha nada aparentemente quebrado e nem tão pouco sangue, apresentava inchaço no ombro e na perna, o médico afirmou que tinha sido apenas um susto, não solicitando nenhum exame. Fez apenas seu relatório atestando lesões leves, nada de raios-X, nada de exame.
Até ai tudo “normal”, mas o que o médico escreveu na guia de atendimento foi surpreendente. Quando já estava fora do Pronto Socorro resolvi ler o relatório, pois no dia seguinte teria que realizar novo exame, pois o acidente foi no deslocamento para minha residência, caracterizando assim acidente de percurso. Foi quando notei que no campo onde constava o motivo do atendimento, o médico preencheu “Óbito”.
É isso ai, eu não disse que existe vida após a morte? Porque além de me matarem, eu ainda assinei meu próprio óbito por estar atordoada e não ter notado tamanho erro.
Se não bastasse no dia seguinte passei por outro médico, e este mesmo relatório deve ter passado por no mínimo cinco pessoas, mas ninguém nem notou se tratar de óbito como motivo do atendimento.
Além de ter sofrido o acidente, sofri ainda na pela o descaso, me senti invisível perante a sociedade. Esta situação que vivenciei serviu para realizar uma reflexão sobre a invisibilidade social. Estou presente numa sociedade, porém não vivo na sociedade, sou apenas um objeto que faz parte do meio.
A indiferença que trataram o meu caso foi surpreendente, não pela falta de exame ou medicação, mas um incômodo com o fato de ter um documento público em mãos onde estava escrito o meu óbito ter passado por diversos órgãos públicos sem ser questionado.
Por Rilane Alves
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